Este ano, pela primeira vez na história, o Brasil teve uma representante em uma categoria top do automobilismo mundial. A piloto é Ana Beatriz Figueiredo, a Bia, que fez a sua estréia na Fórmula Indy, em 14 de março, na São Paulo Indy 300.
Apesar de estar em uma categoria bastante receptiva a representantes do sexo feminino, as dificuldades em um meio predominantemente masculino continuam sendo uma barreira para a entrada de mulheres no esporte a motor.“Eu acho que ainda não é cultural. As mulheres estão começando”, explica Bia Figueiredo.
Hellé Nice foi pioneira neste meio. A francesa iniciou a carreira no final da década de 20, e chegou a disputar provas no Rio de Janeiro e
Algumas poucas mulheres seguiram os passos da piloto francesa. A Fórmula 1, principal categoria do automobilismo mundial, só acendeu as luzes de seus circuitos para uma mulher em 1992. Era a italiana Giovanna Amati, que tentou se classificar para o grid três vezes, sem obter sucesso. Em 60 anos do mundial, apenas outras quatro mulheres chegaram a categoria.
“Eu cheguei a ver na Fórmula 1 uma única mulher. Não, duas! Eu vi a Leila Lombardi e a Divina Galica, que eram a grande exceção. Hoje já não é. Todas as categorias têm. Agora, na Fórmula 1 eu já acho mais difícil”, afirma o comentarista Reginaldo Leme.
Em dos principais motivos apontados para a ausência de mulheres no mundial, é a questão física. O octacampeão de kart Sergio Jimenez avalia que a modalidade exige um grande preparo físico. “O automobilismo exige muito fisicamente. Então você precisa estar muito bem preparado na musculatura e no aeróbico.”
O preparo exigido não é exclusividade da F1, como explica Lucas Finger, piloto da Copa Montana. “Eu tenho que me dedicar demais. Faço academia duas vezes por dia. Alimentação bem regrada, com legumes e verduras. Nada de álcool. Eu sou proibido mesmo.”
Mesmo na Indy, categoria na qual o preparo físico não precisa ser tão rigoroso quanto na F1, os pilotos buscam a melhor condição. “Geralmente o que eu costumo fazer é a pré-temporada. Pegar forte no físico”, explica Bia. “Eu tenho que trabalhar muito, principalmente pelo fato de ser mulher.”
O nível de exigência da Fórmula 1 é ainda mais difícil. “Eu não estou falando da fragilidade da mulher
O próprio Bernie Ecclestone, o todo poderoso da F1, vê a presença de mulheres na pista como um grande atrativo de público e patrocinadores. “Como ele tem visão de marketing, fala que ele já teve um negro campeão do mundo, só falta uma mulher. Uma mulher que se destacasse”, afirma o comentarista da Tv Globo.
O número limitado de vagas disponíveis na principal categoria do esporte a motor é outra barreira para a participação feminina. “São 20 lugares. Você sabe o que é isso? Levando-se em conta que em cada país saem uma média de 30 pilotos de kart por ano, para ficar na F1. Então como é que uma mulher vai competir com esse afunilamento? Só se fosse gênio”, explica o jornalista.
As categorias norte-americanas têm despontado como uma opção. Alavancadas pela participação de Danica Patrick, a primeira mulher a vencer uma corrida na categoria, em 2008 no circuito de Motegi, outras mulheres vestiram a bala clava. Nesta temporada, estão nas pistas da Indy a venezuelana Milka Duno, a suíça Simona de Silvestro e a americana Sarah Fisher, que além correr é proprietária de uma equipe.
“Em todo o meu kartismo eu sempre sonhei em ir para a Fórmula
“É igual no futebol pensar em ir para a seleção, né? Mas acho que a gente vai amadurecendo e vê que o sobrenome não pesa muito”, explica o piloto de Stock Car. “Mas é o sonho de todo mundo andar na Fórmula
Apesar das dificuldades, que existem inclusive para os homens, todos os pilotos que alcançam a realização profissional, nos mais diversos circuitos do mundo, mantém o mesmo entusiasmo do inicio da carreira. “Quando eu entrei num kart pela primeira vez, eu fui na contramão na pista de Interlagos. Eu tinha oito anos, sentei no kart e virei para o lado errado”, relembra a piloto que correu pela Dreyer & Reinbold. ”Eu não tinha noção do que eu estava fazendo. Estava tão feliz de andar. E hoje, depois de 16 anos de corrida, eu estou quase chegando ao meu objetivo. Se eu fechar o olho e lembrar tudo que eu passei, é algo que arrepia.”
“Automobilismo para mim, além de ser a minha profissão é a minha paixão. É o que eu amo fazer. E eu me sinto uma pessoa muito sortuda de ter a oportunidade de estar onde eu estou. De ter todas as oportunidades que eu tive. De estar neste momento. Porque de 50 pilotos que correram comigo, provavelmente só cinco chegam. E saber que eu sou um deles é muito gratificante” avalia Bia. “É muito trabalho. Não é fácil. Mas eu sou muito feliz porque estou fazendo o que eu gosto”, finaliza a brasileira.